Tarefa impossível é voar no dirigível Ventura, da Goodyear, que passeia
nos céus de São Paulo. Os voluntários seriam tantos que a empresa não daria
conta. Foi pensando nisso que os empresários, boêmios de carteirinha, Edgar e
Pena, criaram o Zeppelin Madalena. Um bar que se não voa, faz a imaginação
voar. São tantos seus atrativos – um casarão de 1907, onde funcionou o Bar
Bartolo durante anos – que fica difícil escolher o melhor.
As luminárias – feitas sob encomenda e em forma de dirigível – iluminam
suavemente uma coleção de fotos na parede, a maioria amealhada na internet. Sob
os olhos do conde Ferdinand von Zeppelin – quepe de comandante, barba branca e
sisuda, construtor da primeira aeronave de passageiros (ia de Frankfurt ao
Brasil em três dias) – os românticos zepelins sobrevoam as principais capitais
do mundo. Enquanto um passa sobre a Avenida São João do início do século,
outro, pilotado por Santos de Dumont, em 1901, faz o vôo pioneiro ao redor da
Torre Eiffel, ganhando o prêmio milionário. Pouco antes, seu colega voador
Augusto Severo explodia com o PAX sobre Paris, virando nome de rua em Pigalle e
selo postal no Brasil dos anos 70. Hindemburg pega fogo ao chegar em Nova York
em 1937. “Os americanos tinham a fórmula do hélio (gás não inflamável), mas por
estratégia de guerra – que se aproximava rapidamente – não a forneceram aos
alemães, que usavam o perigoso hidrogênio, responsável pela tragédia”, informa
Pena.
Com lugar para 160 pessoas, mesas e cadeiras de madeira, o belíssimo bar
é iluminado com luz dicróica dirigida. O efeito é o contraste com a meia luz ambiente,
ressaltando o brilho da boa quantidade de garrafas. Embora todos sejam
atenciosos e simpáticos, alguns garçons são figurinhas carimbadas da noite
paulistana. “Muitos clientes vêm aqui para reencontrá-los”, diz Edgar. Cidão
começou no antigo Ópera Cabaré, no Bexiga: “era um restaurante com shows ao
vivo, de Angela Maria, Edu da Gaita, Elza e Claudete Soares”, lembra. De lá,
foi para o Palace, Rádio Clube e Bar Avenida. Quinho trabalhou no Riviera,
reduto intelectual, fazendo amizade com vários cartunistas: Chico Caruso fez
sua caricatura e Angeli inspirou-se nele para criar o barman Juvenal,
confidente da (infelizmente “falecida”) Re Bordosa. Glauco foi outro.
Nascimento e Silva 107, que se considera “mais rodado que mulher do Kilt”,
passou pelo La Boheme, Baiúca, Supremo e Royal. O gerente Rai, com uma coleção
de mais de 2500 pins alfinetados em seus quatro coletes, confessa: “demoro três
horas e meia para fixá-los e sei quem meu cada um deles”. Conhecê-los,
portanto, é outro atrativo. Mas não o último. Comes: Luís Inácio, anéis de lula
doré (R$ 24); Virgulino, abóbora recheada com carne seca (R$ 15); Mocotó do
Rai, caldinho revigorante (R$ 4,90). Bebes: chopp (R$ 3,30 e R$ 2,60); cachaças
– mais de 50 tipos – Germana (R$ 5,50); Salina e Claudionor (R$ 4,10);
capirinha (R$ 9,50); caipiroska (R$ 10,50); mojito (R$ 10,50). Solte as amarras
do balão e aterrisse.
Zeppelin Rua Aspicuelta 524 Tel:
(011) 3814-8763 (atividades encerradas)
Armando C. Serra Negra
Armando C. Serra Negra
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