segunda-feira, 18 de julho de 2016

Acelere a Vespa no Spazio Gastronômico!


Você que ama scooter, ou mesmo possui uma, e ainda não foi ao Spazio Gastronômico, não sabe o que está perdendo. Funcionando há 11 anos no Itaim Bibi e introdutor do pão ciabatta no cardápio paulistano de lanches rápidos, o lugar estabeleceu raízes profundas. Essas qualidades indiscutíveis servem de palco para uma atração inusitada: os irmãos e proprietários Kiko e Fábio Parente amam scooters mais do que você!
Tanto que durante anos amealharam uma coleção única de Lambrettas e Vespas – de diferentes anos e modelos, em perfeito estado de conservação – expostas num pequeno museu anexo ao bar, livre para visitação. Essas motonetas, originais da Itália do pós-guerra, têm uma história semelhante. Ambas vieram atender a necessidade de locomoção  da população arrasada, sendo um veículo barato, com estepe, fácil de dirigir por homens e mulheres (de saia) e a vantagem de não sujar a roupa. Em tempo: a Lambretta foi o primeiro veículo fabricado no Brasil, mesmo antes dos automóveis, em 1955. A Vespa foi fabricada aqui nos anos 80, em Manaus, com licença da Piaggio concedida à (fábrica de bicicletas) Caloi.


Com projeto de Rosana Buonerba, do que foi a principio uma rotisseria, o Spazio Gastronômico tornou-se um belo e requintado bar, seguindo o conceito de vila italiana: tijolinho à vista e jardim aparente. O happy hour acontece um pouco mais tarde, a partir das 19h30. “O maioria dos freqüentadores trabalha na região, em escritórios de advocacia, agências de publicidade e bancos de investimento”, conta Kiko. Entre seus clientes mais assíduos estão o subprefeito Andrea Matarazzo (uma antiga amizade de família), o publicitário Roberto Justus e muitas vendedoras da Daslu, que escolhem o lugar para descontrair. Reuniões de negócios também acontecem, como a última, organizada por Eduardo “Don” Alcântara Machado.

As especialidades culinárias – receitas garimpadas na Itália – incluem: porção de calabresa na chapa (R$ 15,30); mortadela italiana (R$ 17,80); crostini (R$ 15,00). As etílicas: uísque nacional (R$ 7,60); 8 anos (R$ 10,50); 12 anos (R$ 14,00); caipirinha tropical (R$ 6,00); chopp (R$ 3,60, mini R$ 2,90). Acelere!
 
Spazio Gastronômico
Av. Horácio Lafer 533 Itaim Bibi
Tel: (011) 3078-9439
 
Armando C. Serra Negra

Quiproquó no Bar Leo...


Quid pro quod (quiproquó): equívoco, confusão, comédia de erros. A expressão latina se aplica perfeitamente quando a fama sobe à cabeça e os ânimos se exaltam. Encontre um gênio multi-midia – como poucos no Brasil – num boteco popularmente famoso, mas que falha no atendimento de um garçom, e veja no que dá:
            O Bar Léo – tido como o melhor chope da cidade – tem histórias para contar em seus 64 anos de existência. “Jânio Quadros sempre almoçava aqui; um dia viu um repórter que tinha descido a lenha nele, e não deu outra: levantou da mesa e saiu correndo atrás do safado!”, diverte-se Luís de Oliveira, 84 anos de idade. Trabalhando no Léo há 42 anos, mesmo aposentado, o “ouro da casa” não sai de lá... Uma simpatia!
O artista genial Guto Lacaz 


Lacaz, sentado à mesa, chapéu panamá, pediu um sanduíche. Formador de opinião, personagem importante da intelectualidade paulistana, colaborador da imprensa por mais de 16 anos com suas divertidas ilustrações (oito na ex-coluna de Joyce Pascovitch, na Folha de S. Paulo, e outros oito na revista Caros Amigos, da qual é fundador) – é fartamente solicitado para intervenções artísticas públicas. “’Garoa Modernista’, rolou na Pinacoteca do Estado em homenagem aos 450 anos de São Paulo”, conta. Passados quinze minutos, pediu novamente o sanduíche.




Atualmente, o “Professor Pardal” – como é conhecido à boca pequena – ministrou curso de arte cênica para montagem do cenário da ópera Cosi Fan Tutti (de Mozart) no Instituto Tomie Ohtake; outro, para artistas, de Introdução à Escultura Cinética. Entre outras instituições acadêmicas, foi professor de comunicação visual na PUC Campinas. Inspirado no grafiteiro Alex Vallauri (1949-1987) criou figuras impagáveis, em metal, como “Trabalhador”, “Mago”, “Cometa”. Mais quinze minutos, enérgico pediu seu sanduíche pela terceira vez. O garçom foi mal educado, peitou o cliente, deu-lhe as costas e saiu andando. Mas outro garçom, rapidamente, trouxe o famigerado.
Jacaré mal tirado
O bar é em estilo tirolês, charmoso, para 60 pessoas. Os sanduíches em pão francês, de rosbife com queijo, ou pernil, são ótimos, cortados em pedacinhos para petiscar (R$ 8,00); bolinhos de bacalhau (R$ 3,70). No famoso chope (R$ 3,70) o colarinho é alto: “A espuma serve para evitar que o gás escape, deixando-o mais suave”, explica o gerente Waldemar Pinto. Estranhamente, o bar já ganhou diversas vezes o certificado da Real Academia do Chope, da Ambev, por sua qualidade, embora a Brahma cobre uma padronização de três dedos de espuma cremosa (20 ml) na tulipa. O de lá – servido na caldereta – tem quatro ou cinco... comparativamente, com muito menos líquido na taça; ou seja, muito mal tirado.  
Mas como uma das frases antológicas do Léo registrada em seu site é “Aqui o chope é assim, se você não gosta não tem problema, na padaria vende cerveja sem colarinho, basta atravessar a rua”, Lacaz foi até lá e tomou a sua (R$ 2,70) geladinha, feliz da vida. Afinal, com diploma ou sem diploma, um colarinho deve ser tirado ao gosto do cliente, não é? Nota zero para o Bar Leo. Carpe diem (aproveite o dia)!

 

Bar Leo

Rua Aurora 100  Sta. Efigênia

Tel: (11) 221-0247

www.barleo.com.br

 

Lanchonete Minas de Ouro

Rua dos Andradas 135 Sta. Efigênia

Tel: (11) 223-5127

 

Armando C. Serra Negra

Liége - Balada na Sala de Visitas


        
Sala de visitas. Não é um bar, mas serve deliciosas comidinhas e bebidinhas. Não é um bar porque não há uma equipe de atendimento. Não é um bar porque não espera clientes, apenas amigos. Não é um bar porque não é voltado para paqueras. Mas é um bar que funciona às quintas-feiras para uma Vip Hour, exclusiva a convidados. Mas vamos por partes: você se surpreenderá em ter-se tornado um deles!  

         A) Charuteiro, alma boêmia e consultor de negócios do consulado canadense, a partir de 1999 Márcio Monteiro reuniu alguns colegas para baforarem, semanalmente, através dos bares da cidade. “Telefonávamos para saber se os charutos eram permitidos, pois ainda havia muita restrição de fumá-los em público”, lembra.

  

B) Liège, esposa, encadernadora de livros raros, perita na feitura de álbuns – passagem por renomado laboratório de restauro em Madri, com bolsa endossada por José e Gita Mindlin – precisava de um escritório bem situado para exercer a profissão. Encontraram  uma casa espaçosa nos Jardins e mudaram-se para lá. Garimpeira entusiasta de antiguidades, sempre atrás de curiosidades e quinquilharias, já no hall de entrada (passando pelas mesinhas externas, boas de papo em noites amenas), uma confortável cadeira de dentista adianta-se ao simpático balcão dando as boas vindas. Duas ou três mesinhas, na parede, entre fotos de filmes, quadros a óleo de pin-ups, uma lousa-cardápio indica com inusitado bom humor: long-necks Skol (R$ 3) e Bohêmia (R$ 4), caipirinhas de vodka ou pinga, Cuba Libre, Bloddy Mary (R$ 9), Red Label (R$ 12), Conversa Boa (grátis), Conversa Ruim (não tem). Estante de livros repleta de gibis antigos (Lucky Luck, Mortadelo e Salaminho, Tintim), os quadrinhos da turma da Mônica transportam-se alegremente para o revestimento do vaso sanitário: toillete com frascos de farmácia repletos de grãos coloridos, sementes e especiarias. De passagem para a sala de estar, uma vitrine com brinquedos do arco-da-velha marca a transição entre as propostas ambientais. Pena que nada do que se vê esteja à venda (embora aceite-se possíveis escambos); apenas compõe a decoração lúdica e primorosa de um lar feliz... No amplo lounge rebaixado, elegante, tipo descontraído, jardinzinho ao fundo, sofás, poltronas e pufs dão livre trânsito às novas amizades: “É difícil vir aqui e não conversar com alguém”, palpita Liège.

        
C) “Sempre gostei de receber, e logo que mudamos para cá armei o balcão. Além de servir de terapia estar atrás dele, nosso grupo estava exausto de pagar couvert artístico, deixar carro com manobrista ou flanelinha, pagar mais caro pelo consumo; optamos por nos reunir aqui”, explica o barman experimental. Coquetéis simples, pilotados com arte, a coqueluche é o porquinho de barro no qual ele flamba a lingüiça na cachaça (R$ 12). Torradinhas c/ salame espanhol ou salmão coberto de queijo cremoso (R$ 12). A idéia pegou e mais amigos começaram a aparecer. Aumento da demanda, a confraria sugeriu-lhe cobrar pelo que propunha. O casal continuou recebendo em casa, mas agora as contas pagas para ajudar no orçamento: “Não temos um bar no sentido exato da palavra; você jamais o verá entre os 50 da Vejinha, ou qualquer  outra coluna de serviço; abrimos espaço para o Diário do Comércio porque seus leitores formam (seguindo nossa proposta) um público seleto”. Viu só? Aproveite o convite, mas lembre-se: apenas às quintas-feiras, quando – eventualmente – rola um som ao vivo!

 

Liège Monteiro Oficina de Arte

Alameda Tietê 90 casa 3 Jardins

Tel: (11) 3085-8715
(encerrou atividades)

 

Armando C. Serra Negra

 

 

 

   

sexta-feira, 15 de julho de 2016

É Banda Elétrica no Magnólia !






Engenheiros elétricos soltam faíscas no Magnólia Villa Bar. Esquina íngreme, em frente a grande árvore de pracinha na encruzilhada, a casa velha de tijolinho fecha portas e janelas quando o som bomba. Cinquentões maneiros, sem aposentar os instrumentos – e nem vão – dedilham, teclam e batucam cada oportunidade de apresentação. Amigos aplaudem, a clientela se agita, o bar fatura. “O que é um músico sem plateia?”, indaga o batera Álvaro Telles. O Magnólia tem gafieira, samba e MPB ao vivo de terça a domingo, as quartas-feiras reservadas para rock e blues (couvert 25,00). Quando bombou essa garotada grisalha. Foram duas bandas: o vocal da Side Blues Band por conta da afinada enfermeira Daniela Pena, e a Clock Rock Band plagiando as iniciais do Colégio Rio Branco, onde alguns dos ex-alunos iniciaram os acordes. O mais eletrizante é que, em ambas, há três engenheiros elétricos diferentes ligados na tomada!



Clock Rock Band
Alta voltagem dos ritmos transviados e dourados, décadas de 50 a 70, não guardaram acento. Bandas veteranas amadoras – hobby de empresários, executivos e profissionais liberais – aprimoraram o talento, guardando o entusiasmo adolescente em formol. Até que os polos, positivo e negativo, se encostam, e o frasco explode no palco... Eletrólito das memoráveis e velozes notas musicais, elétrons e pósitrons colidem, e todos se levantam e dançam, formando um campo magnético no meio da pista. Os amperímetros endoidecem.

Mesas de madeira escondem as pernas de cadeiras desaparelhadas, vindas de “família muda e vende tudo”. Pilar em terracota, reclames emoldurados de Biotônico, panelas Rochedo, óleo Salada e dentifrício Mentasol, arrepiam publicitários no uso da palavra. Uma flâmula de cerveja Bohemia (R$ 8,40) tremula ao ventilador bisbilhoteiro: girando para cá e para lá areja o salão. Armazém singelo, caixa com grade de ferro, balcão de madeira, prateleira de garrafas e a popular bomboneira que roda, provável garimpo em vilas do interior. Como o indica o nome do bar. Mais quinquilharias e bugigangas. Painel translúcido de foto de São Paulo antiga, bondes e fordecos estacionados na Praça da Sé, o relógio analógico com dígitos romanos marca 13h50. Folhagens transparecem de uma estrutura de madeira e vidro ao fundo, rampa certa para o fumódromo abaixo, e bem vindo. Filamentos incandescentes nos lustres de vidro e cristal barato, auxiliados por lampiões pequenos de latão, esparramam o amarelo difuso que bem ilumina. Corrente alternada: On – quentão gelado (vodka ou cachaça, lima, gengibre, e hortelã – R$ 21,50), caipirinha (R$ 16,50), caipiroska (R$ 18,50); Off – bolinhos de beringela (R$ 24,80), coxinhas de creme (R$ 27,40), pasteizinhos (R$ 23,60). Rock atômico!





 

Magnólia Villa Bar

Rua Marco Aurélio 884 – Lapa

Tel: (11) 3463-4994

GPS: 23º32’4.6” S / 46º4’50’’ W


Armando C. Serra Negra

 

 

Frango Com Tudo / Lilian Gonçalves


Dama-da-noite (cestrum nocturnum): delicadas pétalas brancas e macias inundam, com doce e marcante perfume, a alma dos boêmios. Tradução perfeita para Lilian Gonçalves, personagem das mais importantes da vida noturna paulistana. Nasceu do brilho de uma estrela: “Sou filha de Nelson Gonçalves”, orgulha-se. Família simples, mineira, mudou-se para Brasília em 1958, a mãe cozinhando a “galinhada do JK”. Origem do boato que a diverte até hoje: “Eu era uma gatinha mitíssimo mais nova, e ele um grande sedutor...”. O desmentido saiu na revista Flash, por ocasião da mini-série da Globo, em que foi interpretada pela atriz Mariana Ximenes.

        Empresaria de sucesso – autora do livro Dicas de Sucesso Para Novos Empresários (Ed. Abrather) – largou a carreira de cantora romântica na virada dos 70, porque “queriam que eu cantasse Julio Iglesias, mas minha onda era country”. Nessa época circulava pela cidade numa limusine Landau branca, feita exclusivamente para ela: “Sempre fui marqueteira!”, sorri. Sangue de pai cantor e mãe cozinheira, enveredou pelo lado materno abrindo sua primeira casa, chamada Lalynka, servindo café e pão de queijo. Os mesmos que derretiam na boca de Juscelino. Depois veio o prosaico Boca da Angélica, comida baiana, que passou para a frente.
Lilian Gonçalves

        O sucesso veio com o Biroska, chique, curioso, ótimo de paquera, firme no ponto há mais de 30 anos. Um ponto que foi se alastrando tanto, que acaba de inaugurar o Frango Com Tudo – a sexta casa no mesmo quarteirão, em Santa Cecília. Outro acerto: Cecília é a santa padroeira da música, e música é o que não falta em seu mundo... Ambiente cool, parede de tijolinhos brancos, arandelas vermelhas, freqüentado na happy hour por executivos, médicos, estudantes da Santa Casa e do Mackenzie. Entre o delicioso frango assado, primorosamente decorado na bandeja com saladas e legumes (R$ 20), saboreiam a casquinha de frango grelhada (R$ 6), a lingüiça de metro (R$ 18) e o imperdível pão de alho recheado com catupiry, que é 10, mas só custa R$ 5. São criações do simpático chef Ronaldo, que vem á mesa cumprimentar os clientes com a elegante saudação hindu, namastê. O lado divertido de Lilian fica por conta do uniforme dos garçons, um chapéu que é a cara de um frango! Skol Beats (R$ 4), caipirinha (R$ 6), caipiríssima (R$ 7), caipiroska (R$ 8), Teacher (R$ 6,50), Red (R$ 9,50), Black (R$ 11). Está frio? 15 caldos e cremes (R$ 6, em média).

    
    A empresária emprega 400 funcionários, com capital de giro de R$ 500 mil/mês. Com todo esse glamour artístico-empresarial, Lilian está longe de ser figurinha difícil: “Um dia, já de saída, foi dar tchau para um grupo que bebia descontraidamente na calçada; tocou na garrafa de cerveja, viu que não estava geladinha, e foi, ela mesma, até o balcão, voltando com uma cumbuca de gelo para eles” comenta um admirador. Batendo papo com todos, é uma simples mulher, mãe para os corações solitários. “Meu maior império são os meus amigos... este é o meu maior orgulho”, autografa num livro. Em homenagem ao Dia das Mães,viva Lilian Gonçalves!

 

Frango Com Tudo

Rua Canuto do Val 115 Santa Cecília

Tel: (11) 3338-2525

 

Armando C. Serra Negra            

A Cerveja Mais Gelada do Mundo: Luiz Nozoie










Luiz Nozoie

Aos domingos, Luiz e Shizue Nozoie fecham o bar e descem a serra. Da praia do Perequê, no Guarujá, zarpam de toque-toque alugado (R$ 100,00) para pescar de anzol. “Quando tem cardume, trazemos até 100 kg. de peixe-espada, uma de nossas especialidades”, diz. São oferecidos no espetinho à milanesa (R$ 2,50). O boteco, com cara de boteco, é realmente especial...
           
A começar pela origem: “Há 43 anos abri uma sorveteria, mas o pessoal queria só cerveja”. Então, o engenhoso Luiz, 74 anos de idade, aproveitou a serpentina da antiga sorveteira, e  encheu-a de salmoura. Mantida a -18ºC, ali vai mergulhando os puçás, com até 36 garrafas de cada vez: Bohemia, Serramalte e Original (R$ 4,50). Em 15 minutos atingem uma temperatura próxima de 0ºC: “Mais que isso ‘congera e garafa exprode’”, explica no sotaque.

            Quem prepara as finas iguarias – peixes à moda brasileira – é seu filho; esposa, filha, nora e genro ficam no balcão e servem as mesas. Cebola enrolada em sardinha crua (R$ 1,20 cada), uma delícia; Porção de polvo ao molho vinagrete, cortado bem fininho (R$ 17,00), outra delícia. “Tem um prato raro, que ele só oferece para os vips”, segreda Paulão, um cliente assíduo. Trata-se de lulas recheadas com um segredo de família, também à base de vinagrete (preço variável, conforme o tamanho do molusco). Pessoas de todas as regiões de São Paulo vão lá conhecer o bar, e não há quem resista. Voltam sempre. A única  decoração está nas paredes, forradas de reportagens: “A primeira, da revista Playboy em 1984, trouxe uma barbaridade de gente!”, comemora. E como lá os acepipes japoneses são escassos, um brinde ao velhinho e sua família nesse idioma, com a melhor das vodkas (Stolichnaya envolta numa camada de 8 cm. de gelo  - R$ 8,00). Kampai!
Bar do Luiz Nozoie/ Avenida do Cursino 1210  / Jardim da Saúde Tel: (11) 5061-4554
Armando C. Serra Negra

             

      

        

             
      

















quinta-feira, 14 de julho de 2016

Miller Goddard & Cia Ltda


Quando Charles Miller trouxe da Inglaterra a primeira bola de futebol, jamais imaginaria que a porta de seu futuro escritório – a Miller, Goddard & Cia. – se transformasse, muitas décadas depois, na entrada de um simpático boteco. Um dos mais bonitos da cidade.

“Garimpando velharias, encontrei a bela porta de madeira art decô; estava roída por cupins, mas o vidro com o nome da firma intacto”, conta Babi, antiquária e designer de móveis. Sem saber ainda a que “Miller” a porta pertencia, restaurou-a devido à raridade do vidro, sobrevivente de uma época glamurosa sem um único arranhão. E dele emprestou o nome, inaugurando seu bar em 1992.

“Apaixonado por futebol, meu marido desconfiava que o móvel fosse mesmo de Charles Miller”. A solução do mistério veio logo,  quando Carlos Rudge Miller Jr. – “Charles Miller” para os amigos – pisou no pub pela primeira vez.   

“A porta era da firma do meu avô, em sociedade com Edward Goddard”, revela. Representante da Mala Real Inglesa, dedicada ao comércio exterior, tinha no café a mercadoria principal e a Praça da República como endereço.


O bar, concebido e desenhado por Babi, segue o estilo do começo do século XX: simpática varanda (teto retrátil) dando para a avenida, piso de azulejo hidráulico, mesinhas de madeira com lindas pinturas e cadeiras de cowboy. Filé amanteigado (R$ 29,60), cogumelos variados ao vapor (R$ 32,30), camembert c/ alho grelhado (34,00), são porções deliciosas para duas pessoas.

O que mais ressalta na elegante decoração são as vitrines que forram as paredes, especialmente as de vidro abaulado, estreita passagem para uma sala privée. Num canto do salão, palco de música ao vivo – rock anos 60, 70, 80, blues, jazz (couvert artístico de R$ 8,00 a R$ 20,00, dependendo do dia) – a moçada bomba. Um grande e bem humorado relógio sobre o bar centraliza prateleiras com 60 rótulos de uísque e 20 de cachaça. Feito sob encomenda, o mostrador repete o número cinco: “É a hora do chá inglês e do antigo happy hour”, brinca, afirmando que um happy hour pode acontecer a qualquer momento: “basta amigos se reunirem para jogar conversa fora, saboreando um drinque!”. Uísque 8 anos (R$ 12,50), 12 anos (R$ 17,00); chopp (R$ 3,80).

“Meu avô era um amante do futebol e jamais imaginou o esporte como comércio; ele se decepcionaria muito com a cartolagem de hoje”, conta Charles bebericando o seu. Filho de John – engenheiro escocês que veio para o Brasil trabalhar na construção da estrada de ferro Santos – Jundiaí (idealizada pelo Barão de Mauá), Charles William Miller (1874 -1953) nasceu em São Paulo, num sítio do Brás. Com 10 anos de idade foi estudar na Inglaterra, voltando 10 anos depois: 1894 é considerado o ano da introdução do futebol no País. “Ele trouxe duas bolas – para o caso de uma furar – e foi o primeiro brasileiro a jogar na Europa”, diverte-se o rapaz, equilibrando uma na testa. DNA de quem entende o gingado.

Charles Miller Neto
Época de futebol amador, a Liga Inglesa ainda estava se formando. Relativamente conhecido no além-mar, Miller, baixinho e troncudo – apelidado “Nipper”, garoto rápido, habilidoso – o drible “chaleira” (puxar a bola com o pé e chutar com o calcanhar por trás da outra perna) vem de seu nome. Chegou a jogar no famoso Corinthian Football Club, de onde vem o nome do maior time paulistano. “Meu avô procurou introduzir o jogo entre seus amigos e colegas de trabalho, ensinando regras e dribles”, diz Charles, santista roxo. 

Delimitaram o primeiro campo na Várzea do Carmo (região da Estação da Luz), e tinham que espantar as vacas pastando, durante as partidas. Centro-avante, Miller driblou até 1906, passando para árbitro até 1914. Espantou-se com a velocidade com que o esporte bretão se alastrou por aqui: como rastilho de pólvora, no final do século XIX já havia uma torcida considerável, com mais de três mil espectadores. Homens de fraque e mulheres de chapéu – como no turfe – assistiam às “peladas” entre o time do SPAC (São Paulo Atlhetic Club – criado por ele) e o do Mackenzie, a primeira agremiação fundada por brasileiros, em 1896. Creditou à mistura de raças o talento do futebol nacional.

Casado com com Antonieta Rudge – pianista virtuose, casada em segundas núpcias com o escritor modernista Menotti del Picchia (autor de Juca Mulato) – teve dois filhos: Carlito (pai de Charles) e Helena. Assim, como domingo é o Dia dos Pais, brindemos à memória do grande Charles Miller, pai do futebol brasileiro: olé! 

 

Miller, Goddard & Cia.

Avenida Morumbi 8163 Brooklin

Tels: (11) 5535-5007 / 5096-2707

 

Armando C. Serra Negra