segunda-feira, 11 de julho de 2016

Bar Piratininga





Primaveras e damas da noite se entrelaçam no toldo de vidro art nouveaux, exalando perfume debruçadas em pencas esparsas, sobre os clientes entrando ou saindo do Bar Piratininga. Papeando numa das seis mesinhas redondas, aguardando o manobrista trazer os carros, pitando um cigarrinho mais de lado, sob a tipuana iluminada. À meia luz na calçada singela, o brilho do mercúrio (aff!) quebrado pelo verde frondoso, a vitrina de estilo parisiense do início da século vinte – o nome do bar pintado em ouro velho em letras características – se amalgama com a atmosfera interior.


À esquerda, o balcão do bar ondula em chopes Brahma bem tirados pelo mestre Passarinho, palheta na cabeça, de um antiga cafeteira adaptada: claro (R$ 5,20), escuro (R$ 6,80). Também chora das garrafas de uísque generosas lágrimas de oito anos (R$ 13,80), doze anos (R$ 16,50) e quinze anos (R$ 23,80). Caipiroska de frutas (R$ 15,00), refris (R$ 4,80). O ambiente é saudosista, de uma São Paulo de malandros e melindrosas que não existe mais, relembrada no uniforme dos garçons, no Ford Bigode estacionado em frente (sedã, 1929), em fotos P&B salpicadas na parede de tijolinhos, de personagens boêmios e cenários urbanos, em um grande painel sépia no mezanino intermediário. Pé direito triplo, das mesas à direita tem-se boa vista das compactas bandas de jazz e blues que se apresentam no mezanino superior (couvert artístico R$ 14, sextas-feiras e sábados), piano, guitarra, saxofone, clarineta.


Na parede afixado, um contrabaixo acústico observa cabisbaixo a platéia, braço inclinado sobre o piano animado, amuado pela precoce aposentadoria decorativa. Por outro lado, a grande corneta de latão reluzente do gramofone é como uma bocarra aberta sobre o público, convidando à animadas seções musicais. Ela pousa sobre um expositor antigo de vidro, de bugigangas, geringonças e quinquilharias curiosas. Do teto pendem dois lampiões mortiços, um aviãozinho de metal e um balão como o que Cantinflas (1911-1993) e David Niven (1910-1983) deram A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956), transportando para as telas uma das divertidas ficções de Julio Verne (1828-1905).


Fundado em 1992, o Bar Piratininga é pioneiro na Vila Madalena, montado em uma casinha centenária, de fachada eleita como das mais belas e conservadas da cidade, pelo Clube dos Arquitetos de São Paulo, em 1997. Ás vésperas de completar bodas de porcelana (20 anos) – dê uma olhada no interessante bibelô entre o gramofone e o contrabaixo – experimente: linguiça caracol (recheada com provolone, R$ 25.50), mussarela de búfala na brasa (R$ 19,50), polentinha frita (R$ 15,80). Namore bastante e curta o som de primeira: o Piratininga, à moda antiga, foi feito justamente para isso!


Bar Piratininga
Rua Wisard 149 – Vila Madalena
Tel.: (11) 3032-9775


Armando C. Serra Negra


 

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