Primaveras e damas da noite se entrelaçam no
toldo de vidro art nouveaux, exalando
perfume debruçadas em pencas esparsas, sobre os clientes entrando ou saindo do
Bar Piratininga. Papeando numa das seis mesinhas redondas, aguardando o
manobrista trazer os carros, pitando um cigarrinho mais de lado, sob a tipuana
iluminada. À meia luz na calçada singela, o brilho do mercúrio (aff!) quebrado
pelo verde frondoso, a vitrina de estilo parisiense do início da século vinte –
o nome do bar pintado em ouro velho em letras características – se amalgama com
a atmosfera interior.
À esquerda, o balcão do bar ondula em chopes
Brahma bem tirados pelo mestre Passarinho, palheta na cabeça, de um antiga
cafeteira adaptada: claro (R$ 5,20), escuro (R$ 6,80). Também chora das garrafas
de uísque generosas lágrimas de oito anos (R$ 13,80), doze anos (R$ 16,50) e
quinze anos (R$ 23,80). Caipiroska de frutas (R$ 15,00), refris (R$ 4,80). O
ambiente é saudosista, de uma São Paulo de malandros e melindrosas que não
existe mais, relembrada no uniforme dos garçons, no Ford Bigode estacionado em
frente (sedã, 1929), em fotos P&B salpicadas na parede de tijolinhos, de
personagens boêmios e cenários urbanos, em um grande painel sépia no mezanino
intermediário. Pé direito triplo, das mesas à direita tem-se boa vista das
compactas bandas de jazz e blues que se apresentam no mezanino superior
(couvert artístico R$ 14, sextas-feiras e sábados), piano, guitarra, saxofone,
clarineta.
Na parede afixado, um contrabaixo acústico
observa cabisbaixo a platéia, braço inclinado sobre o piano animado, amuado pela
precoce aposentadoria decorativa. Por outro lado, a grande corneta de latão
reluzente do gramofone é como uma bocarra aberta sobre o público, convidando à
animadas seções musicais. Ela pousa sobre um expositor antigo de vidro, de
bugigangas, geringonças e quinquilharias curiosas. Do teto pendem dois lampiões
mortiços, um aviãozinho de metal e um balão como o que Cantinflas (1911-1993) e
David Niven (1910-1983) deram A Volta ao Mundo em 80 Dias (1956), transportando
para as telas uma das divertidas ficções de Julio Verne (1828-1905).
Fundado em 1992, o Bar Piratininga é pioneiro
na Vila Madalena, montado em uma casinha centenária, de fachada eleita como das
mais belas e conservadas da cidade, pelo Clube dos Arquitetos de São Paulo, em
1997. Ás vésperas de completar bodas de porcelana (20 anos) – dê uma olhada no
interessante bibelô entre o gramofone e o contrabaixo – experimente: linguiça
caracol (recheada com provolone, R$ 25.50), mussarela de búfala na brasa (R$
19,50), polentinha frita (R$ 15,80). Namore bastante e curta o som de primeira:
o Piratininga, à moda antiga, foi feito justamente para isso!
Bar
Piratininga
Rua
Wisard 149 – Vila Madalena Tel.: (11) 3032-9775
Armando C. Serra Negra
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