segunda-feira, 11 de julho de 2016

Ranieri Pipes





Abrem espaço os jornais para as suspeitas caixas de papelão, supostamente vindas de Cuba, a paradisíaca ilha caribenha. Outras,  nem um pouco suspeitas, impostos aduaneiros pagos, são esperadas ansiosamente nas tabacarias de São Paulo, pelos apreciadores de um bom havana. No embalo da salsa e merengue, regadas ao rum, o charuto traz consigo histórias interessantes, envoltas na atmosfera bem humorada dessas happy hours, que se espalham pela cidade.


Ao chegar à América, Cristóvão Colombo primeiro avistou as ilhas caribenhas. Enviando um de seus marinheiros à terra, o grumete voltou aterrorizado: dizia ter encontrado “um bando de homens-chaminé, tição aceso na boca, expelindo fumaça pelos poros, nariz e orelhas!”. O vocábulo provem das relações dos portugueses com o Oriente, em especial com os malaios. Nessa língua “serút”, quer dizer "tabaco enrolado"; os espanhóis, em contato com os maias, da América Central, acolheram o uso de “cikar”, com o mesmo significado.


Demi Moore
O presidente norte-americano John F. Kennedy, lidando com o episódio atômico da Baía dos Porcos, pediu ao secretário particular que comprasse quantas caixas de havana pudesse encontrar. Lotado o depósito da Casa Branca, decretou, entre baforadas, o embargo comercial contra Cuba. Na ocasião, um turista brasileiro em visita aos EUA, alguns Romeo y Julieta no bolso, preferiu fumá-los todos antes de cruzar a alfândega, sob o risco de serem confiscados.


Com certeza, hoje fariam o mesmo os clientes do animado bar da Ranieri Pipes, um bom lugar para fazer amigos. Jamais abririam a mão de seus “puros habanos”, e mesmo de outros nacionais de excelente qualidade. Marca há 100 anos no mercado, Beto Ranieri – na esteira da tradição familiar de comércio e fabrico de utensílios para fumantes – inovou a área, chamando o lendário barman Martinho Piauí (San Francisco Bay) para preparar drinques combinados às folhas de tabaco: mojito, menta-julep e manhattan (R$ 15,00), ou uma bandeja de degustação, com cinco cálices de 10 ml diferentes – uísque Laphroaig, conhaques Courvoisier e Domecq Solera, vinho do porto Cockburn’s e licor de café Tia Maria (R$ 25,00). “São 50 ml, o equivalente a uma dose padrão”, diz ele. Aliás, é apenas na mistura de rum, coca-cola, gelo e limão no copo longo, que se encontra – de fato – uma “cuba libre” (R$ 15,00)... 


O melhor custo/benefício entre os tições (nacional e importado), que as receitas de Piauí acompanham, na opinião da consultora Cristiane de Jesus – há 10 anos com Ranieri –, são o Alonzo Menendez Robusto (R$ 14,50) e o Partagas D4 (R$ 39,50). O nacional mais barato é o Aquarius Corona (R$ 10,50) e, cubano, o Monte Cristo nº 5 (R$ 23,50). “A linha Monte Cristo vai de 1 a 5, acompanhando o  preço e o tamanho dos charutos, em ordem inversa à numeração; assim, o nº 2 – tamanho ‘torpedo’ (R$ 49,30) – mede 16 cm”. Resolvendo o mistério do que fazer com o elegante anel que envolve os charutos – e para evitar qualquer gafe de um noviço – Cristiane cita o escritor Guillermo Cabrera Infante, em seu livro Fumaça Pura (Editora Saraiva): "Você pode conservar o anel se quiser exibir aquilo que fuma, preferivelmente se for uma das marcas mais caras; por outro lado, se você não quer seguir a trilha dos novos-ricos, arranque o anel e jogue-o fora, ou guarde-o para a sua coleção”.


Ranieri Pipes
Alameda Lorena 1221 Jardins
Tel: (11) 3083-0843


Armando C. Serra Negra

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