Abrem espaço os
jornais para as suspeitas caixas de papelão, supostamente vindas de Cuba, a
paradisíaca ilha caribenha. Outras, nem
um pouco suspeitas, impostos aduaneiros pagos, são esperadas ansiosamente nas
tabacarias de São Paulo, pelos apreciadores de um bom havana. No embalo da
salsa e merengue, regadas ao rum, o charuto traz consigo histórias interessantes,
envoltas na atmosfera bem humorada dessas happy hours, que se espalham pela
cidade.
Ao chegar à América, Cristóvão
Colombo primeiro avistou as ilhas caribenhas. Enviando um de seus marinheiros à
terra, o grumete voltou aterrorizado: dizia ter encontrado “um bando de homens-chaminé,
tição aceso na boca, expelindo fumaça pelos poros, nariz e orelhas!”. O
vocábulo provem das relações dos portugueses com o Oriente, em especial com os
malaios. Nessa língua “serút”, quer dizer "tabaco enrolado"; os
espanhóis, em contato com os maias, da América Central, acolheram o uso de “cikar”,
com o mesmo significado.
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Demi Moore |
O presidente norte-americano
John F. Kennedy, lidando com o episódio atômico da Baía dos Porcos, pediu ao
secretário particular que comprasse quantas caixas de havana pudesse encontrar.
Lotado o depósito da Casa Branca, decretou, entre baforadas, o embargo
comercial contra Cuba. Na ocasião, um turista brasileiro em visita aos EUA,
alguns Romeo y Julieta no bolso, preferiu fumá-los todos antes de cruzar a
alfândega, sob o risco de serem confiscados.
Com certeza, hoje fariam o mesmo
os clientes do animado bar da Ranieri Pipes, um bom lugar para fazer amigos.
Jamais abririam a mão de seus “puros habanos”, e mesmo de outros nacionais de
excelente qualidade. Marca há 100 anos no mercado, Beto Ranieri – na esteira da
tradição familiar de comércio e fabrico de utensílios para fumantes – inovou a
área, chamando o lendário barman Martinho Piauí (San Francisco Bay) para
preparar drinques combinados às folhas de tabaco: mojito, menta-julep e manhattan
(R$ 15,00), ou uma bandeja de degustação, com cinco cálices de 10 ml diferentes
– uísque Laphroaig, conhaques Courvoisier e Domecq Solera, vinho do porto
Cockburn’s e licor de café Tia Maria (R$ 25,00). “São 50 ml, o equivalente a
uma dose padrão”, diz ele. Aliás, é apenas na mistura de rum, coca-cola, gelo e
limão no copo longo, que se encontra – de fato – uma “cuba libre” (R$ 15,00)...
O melhor custo/benefício entre
os tições (nacional e importado), que as receitas de Piauí acompanham, na
opinião da consultora Cristiane de Jesus – há 10 anos com Ranieri –, são o
Alonzo Menendez Robusto (R$ 14,50) e o Partagas D4 (R$ 39,50). O nacional mais
barato é o Aquarius Corona (R$ 10,50) e, cubano, o Monte Cristo nº 5 (R$
23,50). “A linha Monte Cristo vai de 1 a 5, acompanhando o preço e o tamanho dos charutos, em ordem
inversa à numeração; assim, o nº 2 – tamanho ‘torpedo’ (R$ 49,30) – mede 16
cm”. Resolvendo o mistério do que fazer com o elegante anel que envolve os
charutos – e para evitar qualquer gafe de um noviço – Cristiane cita o escritor
Guillermo Cabrera Infante, em seu livro Fumaça
Pura (Editora Saraiva): "Você pode conservar o anel se quiser exibir
aquilo que fuma, preferivelmente se for uma das marcas mais caras; por outro
lado, se você não quer seguir a trilha dos novos-ricos, arranque o anel e
jogue-o fora, ou guarde-o para a sua coleção”.
Ranieri Pipes
Alameda Lorena 1221 JardinsTel: (11) 3083-0843
Armando C. Serra Negra
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